A Escolha de Meios Navais pela Marinha
Atualmente, está em voga na mídia brasileira o debate sobre a aquisição da futura classe de submarinos da Marinha do Brasil. O debate se concentra na escolha de uma classe de submarinos de origem francesa (Classe Scorpène), em detrimento de uma classe de origem alemã (Tipo 214).
Independentemente das opiniões pessoais que cada especialista possui, ao decidir por obter um determinado meio, seja por construção, ou por compra de oportunidade, a Marinha do Brasil precisa levar em consideração uma série de fatores.
O custo de obtenção e de operação do meio deve ser estudado a fim de se verificar a viabilidade desses meios na Marinha do Brasil. Não adianta ter recursos para aquisição, se o mesmo ficará a maior parte do tempo fora de operação por falta de recursos orçamentários no futuro.
Outro fator, e talvez o mais importante, é a “independência operacional” da Marinha do Brasil. Explicando melhor, a Marinha do Brasil deverá possuir total liberdade para utilizar o meio, seja ele naval ou aeronaval. Não adianta possuir o meio, se quando precisarmos utilizá-lo (caso de conflito), tenhamos que pedir autorização para a nação que nos vendeu.
Ao decidir por continuar o seu programa nuclear, e a consequente construção do submarino de propulsão nuclear, a Marinha do Brasil buscou parcerias com outras nações. Os Estados Unidos informaram que não poderiam cooperar com a construção do submarino. A Rússia informou que estaria interessada apenas em vender um submarino nuclear para a Marinha do Brasil, sem qualquer transferência de tecnologia, limitando-se, apenas, ao treinamento da tripulação.
Porém, a França comprometeu-se a transferir a tecnologia que a Marinha do Brasil requeria, além de contribuir com a formação de engenheiros e técnicos para “absorver” essa transferência tecnológica. Por fim, se comprometeram a colaborar na formação da tripulação do SNBR, através de estágio em seus submarinos de propulsão nuclear.
Superada a fase de escolha de sua nova classe de submarinos, a Marinha do Brasil começa o processo de escolha de seus navios de patrulha oceânicos (NPaOc), escoltas de 6.000 toneladas, navios de propósitos múltiplos e navios de apoio logístico.
Inicia-se então nova fase de estudo, que remete aos mesmos fatores determinantes da escolha dos submarinos. Muitas vezes, aquele equipamento tido como melhor por alguns especialistas, teriam sérias restrições se operados pela Marinha do Brasil.
Ao tomar conhecimento da proposta francesa para os futuros NPaOc (Classe Gowind), escoltas de 6.000 toneladas (FREMM), navio de propósitos múltiplos (Classe Mistral), e até mesmo um navio-aeródromo, similar ao navio-aeródromo Charles de Gaulle com deslocamento de cerca de 40.000 toneladas, os Estados Unidos resolveram oferecer seus principais equipamentos.
Além da proposta de venda de meios novos, já citadas no BlogNaval, os norte-americanos informaram estar dispostos a transferir para a Marinha do Brasil navios atualmente em uso na US Navy.
O referido “pacote” de meios, tal qual aquele oferecido no início da década, engloba diversas classes de navios. Segundo autoridades navais norte-americanas, eles estariam dispostos a oferecer dois LSD da classe Whidbey Island (17.000t), um LHA da classe América (42.000t), atualmente em construção para a US Navy, um navio de apoio logístico (a ser definido), e, de forma surpreendente, solicitar ao Congresso dos Estados Unidos, a transferência para a MB de até quatro contratorpedeiros da classe Arleigh Burke.
Muitos irão dizer que a Marinha do Brasil deveria aceitar imediatamente esse novo “pacote” de meios. Contudo, devem-se observar aqueles fatores citados no início desse texto. Deve haver previsão orçamentária para manter esses meios em operação.
Além disso, e mais importante, deve ficar bem claro que a Marinha do Brasil teria total independência para utilizar esses meios, a fim de se evitar o que ocorreu na “Guerra da Lagosta”, podendo inclusive fazer as manutenções necessárias, sem a imposição da presença de técnicos designados pelos norte-americanos, nem o monopólio de determinados fornecedores tal qual os alemães impõem.
Conforme se observa, por detrás da escolha de determinados meios estarão diversos fatores, que, certamente, foram devidamente observados pela Marinha do Brasil.
saludos =)