Sábado, 16 de julho de 2011 às 18:14
Uma parceria de transferência de tecnologia entre Brasil e FrançaPresidenta Dilma, ao lado dos ministros Nelson Jobim, Aloizio Mercadante, Gerard Longuet, da França, do presidente da Nuclep, Jaime Cardoso, e do governador Sérgio Cabral aciona máquina de corte da primeira chapa de aço para submarinos. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff destacou, neste sábado (16/7), em discurso por ocasião da cerimônia de início da construção dos submarinos S-BR Brasil, em Itaguaí (RJ), que o grande mérito da parceria entre os governos do Brasil e da França é assegurar a transferência da tecnologia na construção de submarinos que, por fim, permitirão o patrulhamento das águas transnacionais brasileiras. Antes, na sede da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), a presidenta recebeu explicações de autoridades brasileiras e francesas sobre o projeto desenvolvido pela
Marinha.
“Nessa cerimonia, nós vivemos um momento estratégico para o Brasil com o início da construção do navio submarino S-BR”, iniciou a presidenta.
Ela lembrou que um pequeno grupo de países domina a tecnologia da construção de submarinos nucleares e, por isso, conforme disse, trata-se de “um momento especial o Brasil, que dá mais um passo na condição de país desenvolvido, de uma indústria sofisticada”. Segundo a presidenta, desta forma, o país se capacita para desenvolver e utilizar tecnologias avançadas.
No discurso, a presidenta citou a Marinha – responsável pelo desenvolvimento do programa – e presidente Lula, que em 2008 iniciou o processo de parceria com a França – como sendo fatores importantes para que pudesse, na tarde desse sábado (16/7), acionar o botão que permitiu o início da operação de construção dos equipamentos.
“O grande mérito e objetivo dessa parceria é transferência de tecnologia e, portanto, uma estratégica da construção de submarino com a França… Com isso, vamos fortalecer e capacitar a Marinha do Brasil na sua modernização cada vez maior em dominar a produção de submarino de propulsão nuclear. Somos um país com o princípio da paz.”
Outro objetivo do projeto, segundo destacou, é permitir à “Marinha proteger o nosso povo e ser capaz de garantir um ambiente pacífico em nosso país e garantir a segurança de nossas riquezas naturais”. E por isso, continuou, “nada mais justo que nós tenhamos na Marinha um dos fatores de garantia da soberania desse país”.
Ainda no discurso, a presidenta Dilma Rousseff assegurou que o programa não se esgota por aí, pois ele tem por objetivo adquirir conhecimento e permitir ao setor militar tecnologias das mais avançadas. “Um programa de capacitar e qualificar profissionais. Um programa que nos dá orgulho em ver que conseguimos trilhar caminhos desde 2008 e damos o primeiro passo na construção de submarinos até chegarmos na construção de submarinos de propulsão nuclear”.
Ela lembrou, durante o discurso, os avanços conseguidos pelo governo como, por exemplo, alçar 39,5 milhões de cidadãos à classe média, fato que somente foi possível, entre outros fatores, em função do governo ter assegurado maior distribuição de renda no país. A presidenta destacou também os avanços na economia, bem como a importância de se valorizar cada um dos 190 milhões de brasileiros e brasileiras.
A presidenta mencionou também que a Nuclep, nos anos 1990, encontrava-se com suas atividades praticamente interrompidas e que passou a ganhar força em 2003 com o presidente Lula que deu início ao processo de recuperação da empresa. Dilma Rousseff prestou agradecimentos ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, e ao comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, e citou a importância das Forças Armadas no instante em que o Brasil segue na exploração e produção do petróleo na camada do pré-sal.
“Tenho certeza que nós todos, unidos num projeto comum, em que a produção dos submarinos se transforma numa posição estratégica do Brasil, na nossa capacidade de construir alianças internacionais. Sucesso a todos que estão envolvidos nesse desafio.”
A construção de submarinos no Brasil – A iniciativa faz parte do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) da Marinha do Brasil, que prevê a construção de quatro submarinos convencionais chamados S-BR (submarino brasileiro), da classe Scorpène, de tecnologia francesa. A estimativa é de que o primeiro dos quatro submarinos esteja pronto em 2016 e seja entregue à Marinha em meados de 2017, após a realização dos testes de cais e mar. Os demais submarinos convencionais serão entregues a cada ano e meio de defasagem.
Segundo o Ministério da Defesa, o ato tem grande importância para o país, já que representa o primeiro passo para a construção do submarino com propulsão nuclear brasileiro (SN-BR), cuja previsão de entrega é 2023.
Além dos cinco submarinos, o Prosub também contempla a construção de um estaleiro e de uma base naval para abrigar as embarcações. A conclusão do estaleiro é esperada para 2014. Já a base naval deverá ficar pronta seis meses depois. As obras incluem, ainda, a instalação de uma Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (Ufem), com inauguração prevista para novembro de 2012. A Ufem ficará ao lado da Nuclep, estatal encarregada de produzir as seções cilíndricas que formarão os corpos dos submarinos.
Durante a construção das instalações, o Ministério da Defesa estima gerar mais de 9 mil empregos diretos e outros 27 mil indiretos. Já na etapa de construção dos submarinos – apenas na área de construção naval militar – a previsão é de que sejam criados cerca de 2 mil empregos diretos e 8 mil indiretos permanentes, com utilização expressiva de mão de obra local.
Transferência de tecnologia – O acordo firmado com a França no final de 2008, no valor de R$ 6,7 bilhões, também prevê transferência de tecnologia para o Brasil. Pelo acordo, os franceses se comprometem a repassar know-how para determinadas indústrias fabricarem no Brasil itens usados nos submarinos. A estimativa é de que cada um dos submarinos contará com mais de 36 mil itens produzidos por mais de 30 empresas brasileiras. Entre esses equipamentos estão quadros elétricos, válvulas de casco, bombas hidráulicas, motores elétricos, sistema de combate, sistemas de controle, motor a diesel e baterias especiais de grande porte, além de serviços de usinagem e mecânica.
O submarino movido a energia nuclear é desenvolvido com tecnologia altamente sensível, dominada por um seleto grupo de países. Atualmente, apenas China, Estados Unidos da América, França, Inglaterra e Rússia detêm esse domínio tecnológico. Com o Prosub, o Brasil passará a integrar essa lista, já que o SN-BR terá reator nuclear e propulsão desenvolvidos pelo próprio país.
Itaguaí Construções Navais – Para viabilizar o programa de submarinos brasileiro foi constituída uma nova empresa, a Itaguaí Construções Navais (ICN), uma parceria entre a francesa Direction des Constructions Navales et Services (DCNS) e a construtora brasileira Norberto Odebrecht. A união foi formada com a participação da Marinha do Brasil, que detém golden share, com direito de veto sobre questões referentes à atuação da empresa.